Ter milhares de seguidores no Instagram faz de uma pessoa uma influenciadora digital? Os fãs realmente consomem os produtos que essa personalidade anuncia nas redes sociais? Este digital influencer tem formação ou embasamento para dar dicas e orientar seus admiradores sobre os mais variados assuntos? Estas são algumas perguntas que ficam no ar no cotidiano do povo brasileiro, cada vez mais conectado no mundo virtual e consequentemente distante do convívio pessoal.
O filósofo Fabiano de Abreu elaborou uma pesquisa que analisa a relevância da rede social e dos influenciadores digitais no Brasil e na Europa, em especial em contexto de crise econômica, que muda o perfil de consumo de cultura e entretenimento.
“Analisei muitos cantores famosos e cheguei a conclusão que o Brasil é muito interessante para os artistas estrangeiros, mas não porque o brasileiro consome a música, não porque ele compra a música no Spotify e vai ao show, simplesmente pelo fato que o brasileiro é um fake econômico. É um fake real, uma conta que ele curte e interage. Atualmente moro em Portugal e vejo que o Brasil é um país em que as pessoas têm muitos ídolos, mais do que lá fora. Vejo, por exemplo, a Madonna andando pelas ruas de Lisboa sem ninguém pedir para tirar foto com ela. No Brasil as pessoas endeusam os famosos por causa dos problemas sociais, da pobreza… A massa do Brasil serve para os estrangeiros. Por que os estrangeiros se unem à Anitta e por que eles se unem com outros artistas brasileiros. Por causa dessa massa, do volume da mídia social. O Brasil é um país com mais de 230 milhões de habitantes e se o artista conquistar o povo brasileiro ele conquistará mais seguidores. Mas esses seguidores vão consumir o seu produto? Somos um dos países que menos consume produtos dos artistas e por isso os astros estão em decadência. Eles não fazem shows, as discotecas estão fechando e aí não tem onde tirar dinheiro desse meio. Já nos Estados Unidos um artista que tem um milhão de seguidores tem seus produtos consumidos”, afirma o filósofo que reside em Castelo de Paiva.
Fabiano de Abreu alerta que nas redes sociais todo mundo é muito feliz, bonito, faz passeios espetaculares e come muito bem: “As pessoas precisam entender que isso é um mundo fake. Eu, por exemplo, além de pesquisador e filosofo, sou assessor e tenho vários artistas famosos pessoas que possuem 5 milhões, 10 milhões de seguidores nas redes sociais e nós sabemos que aquilo que eles estão publicando não é realmente o que são. Eles só publicam algo que seja muito interessante”.
“A rede social virou uma cobrança. No Instagram, a grande maioria do público é jovem. Na Europa poucas pessoas tem Instagram, já o Brasil é o país que mais acessa o Instagram. Pode ser por conta da crise econômica porque é muito mais barato você acessar o Instagram e viver aquele mundo. Pode ser também uma saturação porque as pessoas não aguentam mais os mesmos assuntos e os canais da TV aberta brasileira não têm muita variedade. Se você quer mais variedade precisa pagar para isso enquanto na Europa são liberados muito mais canais abertos. Tem a questão da violência e as pessoas acabam ficando em casa com medo de sair. A crise econômica fez muitas casas de festas e discotecas fecharem, então a pessoa não tem o que fazer ou tem medo de sair e é mais fácil ficar em casa mexendo no celular e vendo a vida dos outros, vendo aquela vida que queria para ela. Porém é importante ressaltar que aquela pessoa que publica aquela vida não é real, é um fake”, pondera o filósofo.
Para ele, a sociedade está sendo engolida pelo mundo virtual: “Não existe mais aquilo da moda antiga, então as pessoas perdem identidade, acabam sendo influenciadas e não tendo personalidade, perdem ‘quem eu sou’. Você é o que a internet diz o que você é, então a moda é tudo o que estão dizendo na internet. Isso acaba com aquela identidade e originalidade. E como vai ser o futuro disso? Vai ser depressão infantil, falta de aceitação, autoestima baixa, vai ocasionar suicídios e todas essas coisas que fazem com que as crianças cometam atos que antigamente não cometiam. Mas é uma coisa que vai muito da educação que estamos oferecendo aos nossos filhos. Minha filha tem 8 anos e não usa celular. Estou querendo fazer dela uma pessoa real e não uma pessoa virtual. Então isso vai muito do que nós propomos para os nossos filhos, que são os protagonistas da próxima geração”.
Outro ponto abordado por Fabiano de Abreu é a questão de saber o que os digital influencers estão dizendo para seus seguidores. Eles possuem embasamento, estudaram ou são formados para dar dicas sobre determinados assuntos? O filósofo sugere até que leis sejam criadas para coibir certos influenciadores: “Senão eles poderão dar orientações equivocadas e prejudicar quem confia naquilo que estão falando. Já rodei mais de 15 países e vejo que no Brasil existe muito desta cultura do ‘eu sei tudo'”. O filósofo acredita que a imprensa é a chancela para dar credibilidade aos assuntos e assim evitar a famosa fake news.