O emaranhado de normas e regulamentações que regem o cotidiano dos brasileiros ainda é visto como um verdadeiro labirinto por grande parte da população. Embora muitos afirmem conseguir localizar as regras, a dificuldade em compreendê-las e, principalmente, em participar de sua construção, revela um problema estrutural que atravessa gerações e níveis de escolaridade.
Uma pesquisa recente sobre percepções da sociedade em relação às regulamentações mostrou que 65% dos brasileiros dizem conseguir encontrar normas e regras, mas 58% admitem dificuldades nesse processo. Ainda mais preocupante: 36% declararam não compreender o conteúdo encontrado. O dado expõe a distância entre a produção das normas e a capacidade do cidadão comum de assimilá-las.
Juventude versus maturidade
A faixa etária exerce papel decisivo na forma como as pessoas lidam com a regulação. Entre jovens de 16 a 24 anos, 72% afirmaram conseguir localizar as normas. Já entre idosos com 65 anos ou mais, o índice cai para 56%. A escolaridade também é um fator determinante: quanto maior o nível de instrução, mais facilidade em acessar e entender os textos regulatórios.
Esses números evidenciam não apenas uma questão de acesso à informação, mas também um desafio de linguagem e clareza na comunicação do Estado com seus cidadãos.
A ausência de participação social
Outro aspecto revelado pelo levantamento é a baixa participação da sociedade nos processos de elaboração de normas. Mais da metade dos brasileiros nunca se envolveu em qualquer etapa desse tipo de construção, e entre os que participaram, a maioria relatou dificuldades. Essa barreira reforça a sensação de distanciamento entre governo e população, e gera um ambiente de desconfiança e insegurança.
Especialistas defendem que ampliar a participação popular não significa apenas abrir canais de escuta, mas sim criar uma cultura democrática mais sólida, em que cada cidadão compreenda seu papel como corresponsável pelas regras que regem a vida coletiva.
O papel do governo e os caminhos possíveis
Embora parte da população reconheça iniciativas recentes do governo para melhorar o marco regulatório e promover consultas públicas, ainda há a percepção de que o esforço é insuficiente. Para muitos, a atenção dada ao tema não condiz com sua relevância, já que normas mal compreendidas ou mal aplicadas impactam diretamente a economia, os serviços e a vida cotidiana.
Tornar o processo regulatório mais acessível e inteligível passa, portanto, por duas frentes: simplificação da linguagem das normas e investimento em programas de educação cidadã que aproximem a população do debate democrático.
A pesquisa também indica que os mais jovens se mostram mais otimistas quanto à possibilidade de participação, enquanto os mais velhos enfrentam barreiras adicionais. Esse contraste revela não apenas um desafio geracional, mas uma oportunidade de transformação: engajar os jovens pode ser o primeiro passo para construir uma sociedade mais consciente e ativa na formulação das regras que guiam o país.